Nascida numa família tradicional em Ilhabela, residente no bairro do Perequê, Carmen Dias Barbosa sempre foi uma pessoa avante ao seu tempo. Após perder os pais muito jovem, morou até os 18 anos com primos e depois desse período mudou-se para Santos a fim de residir com seu padrinho, responsável por lhe apresentar a arte da telegrafia e taquigrafia, profissões que renderam à Carmen 28 anos de trabalho nos Correios.
Desempenhando a função de telégrafa por alguns anos em São Paulo, Carmen Barbosa sentiu que era o momento de voltar à sua terra natal, e encontrou a oportunidade esperada ao vir cobrir a licença-maternidade de uma funcionária dos Correios em Ilhabela. Já de volta ao arquipélago, novamente teve a sagacidade de perceber uma chance para permanecer na cidade quando um telefone foi instalado na agência, ocasião em que começou a passar os telegramas oralmente para os Correios em São Sebastião, onde se encontrava o aparelho de telégrafo.
Assim Carmen Dias Barbosa ligava Ilhabela ao mundo, transmitindo diariamente, as mensagens dos moradores aos seus entes queridos. Alegria, tristeza, congratulações... Foram muitos os assuntos que permeavam os telegramas taxados por Carmen, chegando a 300 num único dia, na época das festividades natalinas.
Como não poderia ser diferente, Carmen Dias Barbosa conquistou seu espaço e chefiou a agência dos Correios em Ilhabela com maestria, forçando sua memória a reconhecer todos pelo nome, sendo responsável por entregar as correspondências aos moradores do arquipélago, já que naquele tempo ainda não contavam com o serviço dos carteiros.
A entrada na política se deu naturalmente, uma vez que sempre conviveu com esse cenário na casa dos seus primos. Antes de eleger-se vereadora, auxiliou o único irmão, João de Souza Barbosa, nos bastidores de seu mandato à frente da presidência desta Casa entre 1970 e 1971.
Em 1976 foi eleita a segunda vereadora mulher da cidade e a primeira caiçara a ocupar uma cadeira no Legislativo. Ser a única mulher numa Casa de Leis por seis anos, já que o mandato de quatro foi estendido para coincidir as eleições para o cargo de governador, não foi tarefa fácil para Carmen. No entanto, sua garra e força de vontade a fizeram persistir e conquistar novamente seu espaço e o respeito por parte de seus colegas.
Para conseguir que seus requerimentos e indicações fossem aprovados, muitas vezes foi preciso convencer os colegas vereadores a apresentarem as matérias como se fossem de autoria deles e Carmem passava a figurar apenas como a “assinatura de apoio”. E engana-se quem pensa que isto a entristecia, pois Carmen Barbosa não era dotada deste tipo de vaidade. Para ela, o mais importante não era ser “o pai da criança”, mas ver a realização da benfeitoria para seu município.
E com esta trajetória Carmen Dias Barbosa abriu caminho para que outras mulheres pudessem fazer parte da história do arquipélago e do país, conquistando seu espaço por mérito e nunca por indicação ou protecionismo, práticas abominadas pela nossa pioneira.
Após sair da vida pública e aposentar-se dos Correios, Carmen Barbosa dedicou 18 anos de voluntariado à provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Ilhabela, achando uma maneira diferente de realizar um antigo sonho, já que não pôde formar-se em Direito para advogar gratuitamente aos injustiçados.
Em 2013 a Câmara de Ilhabela prestou homenagem à ex-vereadora outorgando seu nome à Galeria de Presidentes e Vereadores Atuais do Legislativo.
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